O presidente da Argentina, Javier Milei, se encontra no epicentro de uma crise política desencadeada por suas recentes publicações no X, a antiga plataforma Twitter. Milei promoveu o lançamento da $Libra, uma criptomoeda que até então era pouco conhecida, e compartilhou um tutorial sobre como adquiri-la. A repercussão de suas declarações gerou manifestações e levou o governo argentino a anunciar uma “investigação urgente” sobre a nova criptomoeda. A oposição, por sua vez, já se mobiliza para apresentar um pedido de impeachment contra o presidente, intensificando a crise política no país.
No dia 16 de fevereiro, Milei fez uma postagem no X afirmando que “o mundo quer investir na Argentina. $LIBRA”. Essa declaração gerou um aumento significativo no valor do token, que é baseado em tecnologia blockchain e não possui lastro em dinheiro real. Antes de sofrer uma queda acentuada, a criptomoeda chegou a ser avaliada em US$ 5 (aproximadamente R$ 28,55). A rápida valorização e subsequente desvalorização levantaram suspeitas sobre a legitimidade do projeto e a possível manipulação do mercado.
Após a polêmica, Milei excluiu a publicação e alegou que não estava ciente dos detalhes do projeto no momento da postagem. No entanto, a repercussão foi suficiente para que o governo federal iniciasse uma investigação sobre o caso. As suspeitas giram em torno da possibilidade de que o presidente tenha se beneficiado da movimentação da criptomoeda, o que poderia resultar em acusações formais de fraude. A situação se complica ainda mais com a criação de uma Força-Tarefa Investigativa para apurar o lançamento da $Libra e as pessoas ou empresas envolvidas.
A Câmara Argentina Fintech, que regula os mercados digitais de serviços financeiros, alertou que a conduta de Milei pode ter configurado uma manobra conhecida como “rug pull”. Essa prática ocorre quando desenvolvedores de criptomoedas utilizam a influência de figuras públicas para atrair investidores, apenas para desvalorizar o ativo e se beneficiar da movimentação. Essa acusação agrava ainda mais a situação do presidente, que já enfrenta críticas severas da oposição.
O bloco União pela Pátria, liderado pela centro-esquerda no Congresso argentino, anunciou que apresentará um pedido de impeachment contra Milei devido à suposta fraude relacionada à $Libra. A ex-presidente Cristina Kirchner, que apoiou o candidato Sergio Massa nas eleições presidenciais, não hesitou em chamar Milei de “golpista de criptomoedas”. Essa reação da oposição demonstra a gravidade da situação e a disposição de seus membros em agir contra o presidente.
O senador Martín Lousteau, do partido centrista União Cívica Radical, também se manifestou, destacando que esta não é a primeira vez que Milei se envolve em polêmicas relacionadas a criptomoedas. Em 2021, enquanto ainda era parlamentar, ele promoveu a plataforma CoinX, que prometia lucros mensais de 8% em dólares e atualmente está sob investigação por suspeitas de fraude. Essa repetição de comportamentos levanta questões sobre a integridade do presidente e sua capacidade de governar.
Leandro Santoro, um legislador da oposição, afirmou que o escândalo da $Libra “envergonha em escala internacional” a Argentina e justifica o impedimento do presidente. No entanto, analistas locais acreditam que as chances de um movimento de impeachment se concretizar são baixas, dada a complexidade do cenário político atual. A situação continua a evoluir, e a pressão sobre Milei aumenta à medida que mais informações sobre a $Libra e suas implicações surgem.
Em suma, a defesa da $Libra por Javier Milei não apenas colocou o presidente no centro de uma crise política, mas também levantou questões sérias sobre a transparência e a ética em sua administração. A investigação em andamento e as reações da oposição indicam que a situação pode se agravar ainda mais. O futuro político de Milei agora depende de como ele lidará com as acusações e da resposta do governo argentino a essa nova realidade.