A recente polêmica envolvendo uma carteira de Bitcoin que começou a aplicar uma taxa de inatividade gerou forte repercussão entre os usuários da plataforma, especialmente após relatos nas redes sociais apontarem deduções que ultrapassam a marca de 170 mil reais. O caso ganhou força nos últimos dias e deixou o universo das criptomoedas em alerta, ao escancarar os riscos de manter ativos em carteiras de custódia compartilhada. A situação levanta debates sobre segurança digital, direitos dos usuários e transparência das empresas no setor cripto.
A carteira de Bitcoin em questão pertence à Alby, um serviço que oferece suporte tanto para a rede tradicional do Bitcoin quanto para a Lightning Network. Ao contrário das soluções de custódia privada, essa plataforma permite que os desenvolvedores tenham acesso aos fundos dos usuários, uma prática que gerou revolta ao ser descoberta em função das transferências feitas unilateralmente. Investidores alegam que não receberam qualquer aviso prévio, tampouco autorização foi solicitada para que os valores fossem movimentados.
Diversos usuários relataram a perda de quantias significativas. Em um dos casos mais extremos, foi notificada a retirada de aproximadamente 172 mil reais como suposta taxa de inatividade. Segundo prints compartilhados em redes sociais como o X, antigo Twitter, as transferências foram rotuladas pela própria empresa como medidas administrativas relacionadas ao não uso da conta por 12 meses consecutivos. Isso gerou uma onda de indignação com acusações de roubo, fraude e promessas de ações judiciais contra a Alby.
A carteira de Bitcoin Alby afirma em seus termos de uso atualizados que possui o direito de deduzir todo o saldo de contas consideradas inativas, ou seja, aquelas que não realizaram qualquer transação em um período de um ano. A cláusula, segundo a empresa, se aplica apenas às carteiras compartilhadas antigas, criadas em 2023 ou antes. Ainda assim, usuários questionam a legitimidade da prática, alegando falta de clareza na comunicação e ausência de medidas para proteger os interesses dos clientes afetados.
A prática da taxa de inatividade já apareceu em outras plataformas do mercado de criptomoedas, mas de maneira mais moderada. A corretora Bitstamp, por exemplo, tentou implementar uma cobrança mensal para contas inativas, mas recuou após reação negativa da comunidade. Já a Nicehash continua a aplicar sua taxa simbólica de aproximadamente 60 reais, sem precedentes de confisco total dos fundos. A situação da Alby, no entanto, é considerada mais grave por envolver a eliminação completa do saldo das carteiras envolvidas.
Especialistas em segurança de ativos digitais alertam para os riscos de utilizar carteiras de custódia compartilhada como a carteira de Bitcoin da Alby. Ao optar por essa modalidade, o usuário não mantém controle exclusivo sobre suas chaves privadas, o que abre margem para ações unilaterais da empresa fornecedora do serviço. Ainda que os termos de uso possam justificar legalmente a medida, a confiança e a reputação da plataforma são gravemente afetadas quando medidas como essa são adotadas sem transparência.
A carteira de Bitcoin da Alby, que já foi considerada uma alternativa prática para transações na Lightning Network, agora enfrenta uma crise de credibilidade. Investidores exigem reembolsos, explicações públicas e mudanças nas políticas da empresa. O caso também levanta um alerta para o setor regulatório, que ainda caminha lentamente na criação de normas claras para serviços de custódia de criptomoedas no Brasil e no mundo. A ausência de fiscalização facilita a ocorrência de conflitos entre consumidores e prestadores de serviço.
Diante do cenário de incerteza, a principal recomendação de especialistas é que investidores utilizem carteiras de Bitcoin que garantam a custódia individual e o controle das chaves privadas exclusivamente ao dono do ativo. Isso reduz drasticamente a possibilidade de interferência externa. Enquanto isso, a carteira de Bitcoin da Alby tenta conter os danos à sua imagem diante de uma comunidade enfurecida, que se vê lesada em um mercado que, ironicamente, foi criado para eliminar intermediários e garantir a autonomia financeira do usuário.
Autor: Walto Inahana